O país pode entrar em uma nova fase de produção de energia renovável a partir do carvão vegetal. É nisso que apostam a empresa Econew e o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que acabam de assinar um convênio inovador. Trata-se da pesquisa e desenvolvimento do cultivo do bambu para a produção de carvão vegetal. Inédito no país, o processo faz parte dos estudos de pesquisa e desenvolvimento que começaram em agosto com a escolha das mudas.

A parceria para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) foi celebrada com a interveniência da Fundação Arthur Bernardes e conta ainda com a participação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). “A possibilidade de chegarmos ao carvão vegetal de bambu é uma inovação para a gente”, conta Sebastião Valverde, professor do departamento na UFV. Oito pessoas estão envolvidas no projeto, que tem potencial para ajudar a sustentabilidade nas cadeias econômicas.

O produto poderá substituir potencialmente no futuro o carvão mineral, de origem fóssil, bem como poderá apresentar maior produtividade do que o carvão vegetal de eucalipto. A energia térmica usando biomassa já é mais competitiva do que a que utiliza combustíveis fósseis, como o carvão mineral, explica o professor. O carvão vegetal feito a partir do bambu pode ser ainda mais viável do que o produzido a partir do eucalipto, como acontece hoje em dia. Enquanto o ciclo da plantação de bambu leva em torno de três anos, a de eucalipto necessita de seis a sete anos.

“O ciclo do eucalipto leva seis a sete anos para corte. No caso do bambu, a gente prevê que o primeiro corte seja com três anos e a partir daí a cada dois anos. Então, você reduz quase que um terço da rotação e gera uma produtividade maior”, comenta o professor da UFV, que coordena o projeto no departamento.

Testes genéticos

O crescimento rápido do bambu, comparativamente ao eucalipto, anima os pesquisadores. “A gente precisa pegar os melhores materiais genéticos. Tudo vai passar por testes. Estudar e analisar essa rotação se de fato vai ser com dois anos, identificar a produtividade. Em teoria, sabemos que há uma produtividade potencial”, disse Valverde.

Cerca de 45 mil mudas de uma espécie de bambu já foram adquiridas pela Econew para início de testes no âmbito do projeto. O novo insumo, conforme o desenvolvimento do convênio, deverá assegurar o volume necessário para a ampliação da exportação de briquetes de carvão vegetal que a empresa já realiza a partir de Florestas Certificadas FSC ® – Forest Stewardship Council® código de licença IMA-COC-007826.

Hoje, a Econew fabrica briquete de carvão vegetal em Várzea de Palma, norte de Minas Gerais, destinado ao varejo internacional, principalmente para o mercado de barbecue (BBQ). “Estamos preparando uma nova etapa de crescimento e principalmente um patamar superior de sustentabilidade em nossas operações e para o mercado em geral”, disse o CEO da Econew, Leonardo Simões Zica.

O produto da Econew segue na forma de briquete, com maior densidade e poder calorífero. Já foi vendido para redes de varejo nos Estados Unidos e Alemanha, por distribuidores independentes locais.

A empresa iniciou estudos para um briquete industrial que seja capaz de substituir, no futuro, também, o carvão mineral e o carvão vegetal no setor siderúrgico e metalúrgico.

Histórico na UFV

O professor da UFV conta que já havia visitado no passado uma indústria de papel que usava justamente o bambu como matéria prima. E uma das coisas que mais chamou a atenção foi como a planta foi capaz de crescer em condições adversas, um cenário de chuvas escassas, relembra o professor.

A perspectiva de poder calorífero e densidade de granel igual ou mesmo acima do eucalipto atraiu a curiosidade científica dos pesquisadores. “É um potencial muito grande. E com isso nós vamos identificar materiais genéticos possíveis do bambu, é o objeto da pesquisa”, completou.

Ele conta que até a década de 70 era comum se fazer papel a partir da celulose de bambu. “A fibra de bambu tem uma qualidade muito interessante, é uma fibra longa. Então isso dá propriedades ao papel da propriedade de resistência”, comenta o acadêmico. De olho na versatilidade, a UFV criou um grupo temático de estudos, para debater todas as aplicações do bambu e suas principais questões operacionais.